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Como é próprio da Igreja, de se preocupar com os desafios que a sociedade vai enfrentando em cada época da existência humana, desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco tem se mostrado muito apreensivo com questões relacionadas com o meio ambiente, a justiça social, os pobres e o lugar que os povos e culturas em risco de desaparecimento devem ocupar nas nossas vidas. É por essa razão que quem lê a Encíclica Laudato Si (2015) nota haver algumas similaridades com a exortação apostólica pós-sinodal intitulada “Querida Amazónia” (2020), mostrando, assim, haver uma certa continuidade do seu pensamento, nas duas obras.

Entretanto, antes de, brevemente, falarmos da “Querida Amazónia” sem nos obsecrarmos da profundidade moral, espiritual e humana do mesmo documento, talvez seja necessário explicar o que é uma exortação apostólica e o contexto em que esta pode ser escrita. Na verdade, depois da realização de uma Assembleia Geral dos Bispos Católicos do mundo inteiro, chamada Sínodo, convocada por um Sumo Pontífice, para discutir sobre problemas centrais que a Igreja Católica e a humanidade estiverem a enfrentar em algum momento da sua história, o mesmo Pontífice escreve um documento menos solene do que uma encíclica, onde, resumidamente, o mesmo apresenta as recomendações necessárias, resultantes do mesmo Sínodo, destinadas a um grupo-alvo que pode ser o clero, os bispos ou mesmo os cristãos em geral.

É dentro deste contexto que precisamos de entender a exortação apostólica pós-sinodal intitulada “Querida Amazónia”. Esta exortação foi feita pelo Papa Francisco depois do Sínodo realizado no Vaticano, entre os dias 6 e 27 de Outubro de 2019, para refletir sobre os problemas enfrentados pelos povos indígenas da Amazónia. Esta região é composta por países tais como a Colômbia, o Brasil, a Bolívia, o Perú, o Equador e a Guiana, entre outros, cobrindo uma área de 6 milhões de quilómetros quadrados, onde vivem 2.8 milhões de pessoas divididas em cerca de 400 tribos que falam aproximadamente 240 línguas.

Associada à escassez de sacerdotes para servirem a Igreja missionária daquela região, a razão que justifica a necessidade de um Sínodo para refletir sobre a região da Amazónia é que, nos últimos anos, a mesma região tem sido caraterizada pela entrada de megaprojetos e outras infraestruturas cujas ações resultam no abate ilegal de árvores em amplas extensões de florestas e na exploração de recursos mineiros. A maior parte desses projetos resulta na poluição não só do ar como também da água, provocando doenças e outros problemas que afetam a saúde humana e o bem-estar da fauna e da flora daquela região. Na verdade, enquanto os mesmos projetos geram muita riqueza em benefício dos seus proprietários, constata-se que a população local não se beneficia dos mesmos. Ao contrário, os líderes tradicionais e pessoas que se opõem a essas práticas são mortas, em face, também, a situações de a violência contra mulheres, em face à exploração sexual, ao tráfico humano, à perda da identidade cultural, linguística e espiritual e em face às condições deploráveis de pobreza a que o povo da Amazónia está forçado a viver.

Não será por acaso que, logo no início do deste documento, Papa Francisco apresenta quatro desafios que sustentaram e enformaram a exortação aqui apresentada. Os referidos desafios são apresentados em forma de quatro sonhos que são os seguintes: sonho social, sonho cultural, sonho ecológico e sonho eclesial. Em poucas palavras, o Santo Padre apresenta os mesmos sonhos convidando a humanidade a sonhar com ele da seguinte maneira:

“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos” (QA, nº 7).

Neste sentido, a pesar de ser exortatório, o mesmo documento constitui um convite à reflexão e ação não só para atender os desafios que a Amazónia enfrenta, mas também para que os mesmos sejam encarados como desafios contemporâneos enfrentados, também, em outras partes do mundo, de modo que cada povo busque soluções aos mesmos do mesmo modo que aquele Prelado apresente para a Amazónia.

Para uma leitura e reflexão mais pormenorizadas sobre os documentos acima mencionados, o Centro de Investigação Santo Agostinho (CISA) convida a comunidade académica a aceder os documentos acima mencionados no website do Vaticano pelos links abaixo:

Querida Amazónia: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200202_querida-amazonia.html.

Laudato Si: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

João Abílio Lázaro – CISA

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